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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

"Geração Perdida", Mulheres e Touradas - Delírios dos Vinhedos

(Por Tofàres Ervas)
Em 17/07/2013

Nesse último dia 14 de julho, se encerraram as comemorações do tradicional festival espanhol de São Firmino (uma espécie de padroeiro), na cidade de Pamplona e do qual me vieram várias recordações ao ver as fotos numa reportagem do site do Terra. Aparentemente o número de frequentadores só aumenta a cada ano, o que é bom para a cidade. E o que na verdade me faz lembrar vivamente deste evento, não se deve à uma visita (física) mas sim às lembranças da leitura de um dos mais célebres livros de Ernest Hemingway, chamado “O Sol Também Se Levanta”, publicado em 1926. Este, que foi o primeiro romance de destaque de Hemingway é considerado por muitos como o ápice de sua técnica literária. A narrativa retrata o cotidiano de uma geração afetada pela primeira guerra mundial, com expatriados ingleses e norte-americanos saindo de seus países, indo em direção à Europa, mais especificamente à Paris e Espanha. Lá, sem um aparente sentido e/ou moral, desestabilizados, os personagens os procuram através das artes, boemia e hedonismo. O círculo social tratado por Hemingway em sua obra é diretamente biográfico do “grupo” chamado Lost Generation, termo que se refere às celebridades literárias americanas que migraram para Paris entre a primeira Guerra e a Grande Depressão, entre elas Gertrude Stein, F. Scott Fitzgerald, e o próprio Hemingway. 

Foi tão impactante em termos de genialidade, que muitos artistas que vieram depois, como a “Beat Generation” e seus representantes Kerouac, Burroughs e Ginsberg, foram fortemente influenciados pelas ideias, técnicas e estilo de Hemingway e da Lost Generation num todo, como uma entidade dinâmica artístico/cultural. O próprio jazz tem uma inter-relação muito forte para com a Lost Generation, seja pela musicalidade calcada no improviso, seja pelo inesperado, o “estranho”. 

Hemingway tem uma escrita muito coesa em que não trata das coisas no passado (especificamente nesse livro), o que faz ainda mais difícil descrever cenas por muito tempo e que dá um toque especial à forma de como o leitor absorve isso. Entre as andanças por variadas cafés de Paris até a chegada ao referido festival, como eles estão viajando de trem, decidem parar em Pireneus, uma cordilheira entre a Espanha e a França, cenário em que ocorre uma das cenas mais belas do livro, onde alguns dos personagens do enredo começam uma pescaria e refletem sobre vários dos recentes acontecimentos em suas vidas e para onde estão se direcionando.


Já em Pamplona, é que a loucura e diversão dominam os personagens. Cachaçadas homéricas, muita dança, touradas, beberagens, gente bonita, comemorações e mais cachaçadas. Muito do que foi escrito nesse livro popularizou, para aquela geração e para as gerações futuras, o renomado festival de São Firmino e confirmo isso com base nas fotos apresentadas na reportagem do Terra. A forma como Hemingway, um grande amante das touradas as descreve é cativante e fez a mim, que era indiferente a essa tradição espanhola até então, ter pelo menos a vontade de conhecer e ver isso de perto! (Desculpem-me os protetores dos animais, é o poder da literatura e conhecimento que acabou prevalecendo). 

Nitidamente, muitas das pessoas dessas edições mais novas do festival foram inspiradas pela obra, nota-se pela apreciação do evento e forte hedonismo (alcoolismo haha) dos participantes. Pelas suas ações, até lembra o próprio grupo de Hemingway em suas “férias” para acalmar a mente. Uma das primeiras citações do referido livro cabe perfeitamente para descrever essa comparação: “Uma geração vai, e outra geração vem, mas a terra permanece eternamente”. A semelhança até pode ser além disso tudo... podem estar procurando, depois de todos os seus problemas, apaziguar o cérebro e procurar um sentido no meio de todas essas loucuras de suas vidas particulares e dos acontecimentos (principalmente os ruins) do mundo globalizado em que “tudo está ao alcance”, com a massificação de informação. Todos estão tentando achar um rumo para si depois de tanta descrença quanto ao futuro... Será?


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