Dilatando as
artérias anais, notei no espelho – A Iluminação – os pentelhos brilhantes do
pênis dourado reluzindo enquanto eu gritava ao cacete turbinado: "WHO is the brother?"
Dia: 22 de outubro de 2010.
Local: Blues Pub (Taguatinga Sul)
Apresentação da banda The Happy Jacks (The Who Tribute)
(Por Tecàrius Neves)
Acabo de
descer de um belíssimo ônibus de cor verde com um GDF estampado na lateral – para
que todos os brasilienses não esqueçam quem é que manda. Tento respirar o
máximo possível do ar poluído do Centro de Taguatinga para tentar esquecer
aquele desagradável perfume humano – Nhaca Phéromones – que havia no interior
do ônibus, inclusive, acendo um cigarro e vou tragando pelo nariz pra
desinfetar.
Com essa
fase de greve dos metroviários, o excesso de contingente nos ônibus é algo que ocorre
naturalmente...&... como se já não bastasse a greve dos bancários, apesar
destes merecerem adotar a greve, de fato!... Afinal de contas, devem estar
enjoados de tanto caviar, e por que não aproveitar quando já é hora de chorar
pra mamãe pela chupeta nova (não esquecendo que estamos em época de eleição e
esse tipo de coisa é costumeiro [ainda mais com as mamães no auge da
complacência e novas chupetas sendo fabricadas em série!]!)?
Urnas
eletrônicas, caixas eletrônicas, pagamentos eletrônicos... pelo menos não nos
fodem realmente... Virtualmente, quem sabe?
No tempo em
que estes pensamentos me vêm à mente, o semáforo para pedestres emite a
esperada luzinha verde que me diz de modo sinestésico: “pode vir”... E eu vou.
Logo atrás
do semáforo, um letreiro enorme emite: “IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS” – o
letreiro não tinha nenhuma luzinha verde e, por conta disso, não cheguei a
sentir um convite como o “pode vir” anterior... Assim, resolvi respeitar as
leis de trânsito e não ousei ultrapassar... A entrada da igreja tem umas
pilastras de formato grego (ou romano, não sei ao certo) e outras coisinhas que
enfeitam a casa do Todo Poderoso... No mais, uma total ninharia comparada
à réplica do “Templo de Salomão” que será erguido em São Paulo... Ele fará
sombra ao Cristo Redentor – como disse o jornal britânico The Guardian, ao
fazer referência ao seu tamanho espalhafatoso – e, supostamente, daria pra
construir o Palácio do Planalto duas vezes. Pelo menos a galera que irá (ou não) frequentá-lo não vai ficar mais pensando: “Poxa, o que eles fazem com os 10% do
meu salário que dou todo mês?”... Toma, taí!
Toda vez que
me deparo com essa instituição, lembro-me da capa da revista IstoÉ, de 1995, em
que mostra o líder (bispo) Edir Macedo – também proprietário da Rede Record de
Televisão – contando dólares e ensinando aos evangélicos como meter um camelo
no buraco da porra de uma agulha. Além do Macedão, vou me lembrando, só por lembrar, de outras
duas figurinhas dessa cena: o bonitão do R. R. Soares e o Silas Malafaias &
seu (inesquecível) fidedigno bigode – sobre este, o próprio mestre Macedo chegou a chamá-lo de
“falso profeta”, por apoiar a candidatura de José Serra (PSDB) no segundo turno
(poutz!)...
Penso também
em qual deve ser o curso preparatório de voz em que os chamados “pastores” da
Universal são obrigados a fazer para obterem a mesma voz do mestre Macedo... A
MESMA!!... Assim como eu, imagino que muitos possuem essa mesma dúvida no seu
mais íntimo interior... Diversas vezes já cheguei a pensar que todos
apenas atuam com um gravador, acoplado por dentro da garganta, que fica emitindo a voz
enquanto eles dublam... O playback “macedônico”... Talvez por isso eles não arriscam
implantar o consumo de hóstias na cultura do festival evangélico... Vai que, ao
engolir o pão, dá uma pane no gravador de voz e a porra toda vai pro brejo,
tornando-os, neste caso, o próprio rebanho, ou seja: a hostiam (vítima,
em latim)?
Falando em
hóstia (que é algo, tipicamente, católico), lembro do papa alemão, Joseph
Aloisius Ratzinger, querendo se meter em nossa política ao se pronunciar sobre
a questão do aborto, assunto que todos tentam, por algum motivo, evitar...
Opa... Acabo de cruzar a rua e subir a calçada...&... deixo a história do papa pro passado enquanto ouço o papa do futuro, Macedo, fazendo um aborto
espiritual: “SAI DE DENTRO DELA, SAI, SAI, SAAAAI”...
Espantado,
olho imediatamente para dentro do recinto... mas novamente, era apenas um babaca com a mesma
voz do mestre... Caí nessa mais uma vez...&... Caio fora em direção ao objetivo da noite...
Queixumes em
Horário de Pico...
Tiro o
celular do bolso e olho as horas: cerca de 22h30 – Cacete, espero que o show não
tenha começado – penso comigo mesmo, o “Cacete” pode ter saído
involuntariamente...
Ligo para o
Tofàres Ervas e ele diz que ainda não chegou no Blues Pub, onde vai haver o
show de uma banda cover de The Who – apesar de não ser muito chegado em bandas
cover, essa me chamou a atenção por dois motivos básicos e muito simples. São
eles:
- Nunca
havia visto uma banda cover de The Who, que...
- É uma
banda que eu curto pra caralho!
Pronto... Estão ai os
motivos... Como eu disse: muito simples.
Outro
“motivo” é que eu precisava tomar umas, o que não enquadro como um motivo...
Mas, uma necessidade... Chego ao Pub e a banda ainda não havia
começado...&... como era de se esperar, nada do Ervas, então já começo na
frente... Cerveja na mesa, algumas pessoas bêbadas gritando em volta, e em meio
a essa gritaria,do lado de fora do Pub, tento jogar algumas palavras fora com o segurança do recinto, Oswald – que é amigo nosso de outros litorais...
A localização atual do Blues Pub – a anterior é
onde, hoje, se encontra o America Rock Club – é, digamos assim, um autêntico
cafofo... E como não há nada melhor do que um Blues como música tema de um local
cujo nome já tem “Blues” no meio: ouso sugerir a “Ventilator Blues”, dos Rolling Stones, como tema para tal: “Ev'rybody gonna need
some kind of ventilator”... Como uma luva!

De fato, todo mundo precisa de um ventilador, qualquer
que seja, quando estamos tratando deste recinto – principalmente quando a quantidade
de pessoas em seu interior se eleva um pouquinho mais... Alguns ventiladores espalhados pelo Pub até que salvam em raras ocasiões... Apesar disso, o cafofo
não deixa de ser um refúgio para todos os roqueiros de plantão de Taguatinga...
Numa cidade em que o número de locais para se curtir Rock é incompatível ao número
de roqueiros inclusos nela, até dentro de bueiros dá pra se sentir bem... Uma
vez que o Rock role... Por esse e outros motivos somos chamados de roqueiros “dorme-sujo”...
Retomando... O Blues Pub, apesar de pequeno e
abafado, é um lugar bem acolhedor... Dá pra juntar uma galera que, apesar de
soada, estampa sorrisos na face enquanto se deleita numa mesa de sinuca, em um
fliperama ou em pé ouvindo a banda que estiver se apresentando... É como diz aquele
ditado sobre o coração roqueiro de uma mãe, né?! E como “mãe”, em relação à
cena da cidade, a Lázia – dona do Blues Pub – se enquadra muito bem... Muitos tratam-na
com o devido carinho e respeito, principalmente os músicos da cidade... As admirações,
normalmente, não se aplicam aos rebentos, mas isso já é outro papo...
Ligo mais uma vez para o Ervas para apressá-lo – ele costuma ser bem
enrolado, mas após tantos anos de amizade, considero-o um irmão e relevo...
Depois de algumas garrafas, ele chega, finalmente... Não lembro que horas eram
quando ele chegou, mas creio que era pouco mais das 23h, e nada do show... Ele
chega com outro amigo nosso, Stan Lee... Nos cumprimentamos e, rapidamente, vem
à tona o grande momento: ir atrás da cana...
Para o bem
ou para o mal, cerveja demora pra embriagar, além de criar ao redor da mesa uma
esteira metafísica de transportar dinheiro pra longe da gente (algo que já tínhamos
pouco ali)... O problema de ficar só na cerveja é que, quando menos percebemos,
o dinheiro não tá mais onde deveria, diferentemente de nossas cabeças, que
permanecem quase no mesmo lugar de antes de começar a beber... Nosso objetivo
não é manter a cabeça no lugar, ainda mais em um dia como o de hoje... Ficar
ali tomando cerveja ou doses caras seria, em outras palavras, um Menos-Valia...
Precisamos
de uma garrafa!!
Alguns
amigos do Stan Lee haviam chegado ao local e ele foi cumprimentá-los... Enquanto
isso, eu e o Tofàres Ervas saímos do
Pub em direção a uma distribuidora de bebidas que fica a praticamente quinze
minutos, à pé, dali... Para a nossa derrocada, esses passos foram em vão... A distribuidora
estava fechada e a tristeza tomou conta da nossa essência como ser (como
Dasein)...
Chegamos de
volta ao Pub com o estandarte da agonia quando, para nossa mais sincera
surpresa, avistamos uma garrafa de vodka (Orloff) entre Lee e seus amigos,
que aguardam do lado de fora do recinto... Não há como descrever tamanha
alegria nessas linhas tão certinhas – sóbrias... Quem possui, como dom, o
espírito ébrio, sabe qual é a sensação apenas em imaginá-la... Enquanto o Ervas
– o sociável de nós dois – troca alguma
ideia com alguns deles, eu abro a tampa da garrafa e dou rápidos tragos ali
mesmo, na boca da garrafa... Minha alma é lavada e transcendida à alegria enquanto
passo o néctar para o Ervas, que, como bom bebedor, aprecia com o mesmo vigor
& honraria – o sociável
insaciável...
A banda,
enfim, começa a tocar lá dentro do Pub e decidimos entrar... Não lembro bem se
eles abriram com o clássico My Generation, mas lembro de entrar ao som desta...
O som estava bom, apesar da voz baixa – o que é normal em algumas casas de
shows... Pegamos uma cerveja e ficamos analisando aqueles caras tocando vários
clássicos ali... Apesar de não gostar muito de cover, essa banda se sai bem...
Até ai, tudo bacana, o resto embaralha um pouco...
Não sei se
por meu – já mencionado (até demais) – gosto por bandas cover ou se é por conta do álcool agindo legal na
minha cabeça, mas o tempo passou muito rápido e eu consigo lembrar, apenas, de
alguns detalhes do show... Essa análise, vou deixar para o Tofàres Ervas, se é
que aquele alcoólatra vai lembrar também...
Retomando
(pelo que lembro & como lembro):
Jogamos
algumas partidas de sinucas apostando cerveja e...
Estamos,
subitamente, fora do Pub... Em algum momento inerte, o show acabou e todos já
iam embora...
Enquanto
saíamos, Ervas me diz ter uma erva para que a gente possa ir pra casa e dormir
tranquilo... Fumamos ali mesmo, a uns 5 metros da entrada do Pub... Oswald, o
segurança, também está na roda, grande camarada! Trocamos
algumas ideias e nos despedimos...
A ideia,
aqui, era escrever sobre uma noite de show na cidade de Taguatinga... Como diria o
jornalista e escritor uruguaio, Eduardo Galeano: “A memória guardará o que
valer a pena”... Talvez a regra mude quando estamos "altos"...
A noite, no
entanto, acabou sendo só mais um motivo para apreciarmos os Queixumes em
Horário de Rock...
Após o toque do celular, na tela vejo o número do Tecàrius Neves, atendo e ele
diz que já está perto do Blues Pub. Já é próximo das 22h30. Me lembro que as
bandas nunca começam no horário e isso é um saco, às vezes... pelo menos quando
você está só querendo ver o show ou está quebrado. Saio de casa observando e
procurando algum movimento mas acho que está em época de seca, nada nada.
Encontro o Stan Lee no caminho, que iria também ao show. Sorte ter encontrado um
save algumas quadras à frente, o que já ajudaria também o Tecàrius Neves assim que
chegássemos.
O lugar fica perto do Obcursos e perto das Lojas Americanas, em
Taguatinga (Centro), lugar repleto de comércio durante o dia e também à noite... “comércio sexual”: travestis, prostitutas, vez ou outra se vê algum
drogado, coisas normais durante noites em centro de cidades “movimentadas”. Já
no Blues, o local é cercado por um point de venda de pizza e do outro lado uma
lanchonete. Tem uma pequena grade pra separar os frequentadores das pessoas que
passam na rua, medida de proteção. Além do segurança.
Ao fundo, uma porta de madeira daquelas que abrem dos dois lados como
entrada e paredes azuis por fora; mesas à disposição de quem quer tomar uma
cerveja e um ventinho do lado de fora.
Chegando vejo o safado Tecàrius já tomando uma cerveja (depois de ter
ligado várias vezes no cel. me apressando) e também reparo que o show não havia
começado, mesmo tendo chegado ao lugar no horário certo. Cumprimento o Oswald,
que é segurança, já conhecido nosso, bem gente boa e bom funcionário e logo em
seguida cumprimentar o amigo. Pedimos mais copos pra ajudar com a cerveja
enquanto conversamos sobre a demora do show, alguns amigos que o Stan Lee disse que viria das áreas do Plano Piloto e sobre o que beberíamos em seguida.
Já deviam ser 23:20 pra mais.
Depois de alguns minutos, tempo em que tomamos o restante da garrafa,
chegam os amigos do cara, que param no point de pizza e pedem uma. Aproveitamos
que enquanto ele fazia a recepção dos forasteiros, iríamos pegar uma garrafa de
alguma bebida quente, porém o caminho foi em vão, pois não havia mais nenhuma
distribuidora nem similares abertos.
Na volta, descobrimos que os forasteiros trouxeram Orloff, o que já era
uma boa ajuda alcoólica no momento e lembrando que já devia ser meia-noite e
nada do show começar. Tudo bem, tá certo que estava curioso pra ver um cover de
The Who, nunca tinha visto um em Brasília, mas não dei muita importância, era
cover e estava me embriagando. Quando algumas doses foram engolidas, começa o
som da batera juntamente com a guitarra e baixo trazendo as notas de uma música
que é razoavelmente famosa deles, mas não me lembro... Fomos entrando novamente
no Blues, pegamos as comandas e seguimos adentro.
Logo senti o ar abafado, mais paredes azuis com misturas brancas e um
“corredor” feito por uma proteção de compensado à esquerda, que do outro lado
se posicionam duas mesas de sinuca e 4 ou 5 máquinas de Arcade (Mortal Kombat,
Street Fighter, Metal Slug e mais alguma que não lembro). Continuando o tal
corredor, um degrau de descida e algumas mesas espalhadas, o balcão onde
vendem-se as bebidas mais ao fundo no lado esquerdo; banheiro logo à direita do
término do corredor e mais ao fundo do lado direito. Entre eles, o palco, onde
agora estavam tocando My Generation, clássico absoluto. Peço pro Tecàrius pegar
a cerveja.
Gostei do timbre de guitarra particularmente, mais moderno e mais ganho
do que o timbre do Pete Townshend, porém de bom gosto. A voz, apesar do
vocalista estar cantando bem e desafinando pouco, sempre é um problema, ainda
mais se tratando de Blues... creio que desde que se mudaram da sua antiga
localização em frente do Carrefour (Taguatinga Sul), já falavam dos
equipamentos de som em geral, destaque para a voz, que normalmente é o mais
difícil de deixar de forma a agradar a todos. O baixista também executava bem e
estava ouvindo um bom timbre, junto com a bateria que fazia coisas
interessantes, mas não tão “The Who” e sim um peso à mais nas batidas.
Não está lotado, longe disso... (se chegar a lotar...) Perto do palco,
maluco e pilhado como sempre, está um amigo de boas “estradas”, Davi Kaus que
deve ter acabado de discutir com sua patroa e está liberando energia no rock do
Who. Cara altamente respeitável, bem presente na cena do rock de Taguatinga,
com a banda Vitrine, além de alguns outros projetos, e sempre auxiliando o cenário. Acho que ele está bem
bêbado, inclusive, mas nada que já não tenha passado. Queria ouvir Baba O’
Riley....
Depois de algum tempo vendo o set que baseou-se, com maestria, nas
obras mais conhecidas do The Who (mesmo tendo sentido falta da já falada
“Baba”, I Can See for Miles...), a vontade de jogar uma sinuca surge após ver
os amigos do Lee jogando e nitidamente se viam aprendizes. Intimo o Tecàrius para uma rodada. Velha
regra:
“perdeu, paga a cerva”.....
Ele ganhou a primeira ficha. Muita sorte!
É, agora resolver na próxima.
MALAAAAAAAANDRA! Paga a cerva agooooooooooora safado!
Depois de algum tempo circulando pelo lugar, percebo ser 2:30 da manhã.
É... ninguém na rua, movimento concentrado adentro, hora do velho save. Ou não
se lembra da ajuda ao Tecàrius Neves que me referia lá em cima? Pois é, quando se
sabe, não se esquece.
Faço todos procedimentos ali fora mesmo, e após a liberação do
segurança, vou ao outro lado da rua com Tecàrius e acendemos o cigarro. Depois
de alguns passes, vem também o segurança e o amigo dele, coisa rápida.
Cerca de meia hora depois, após o movimento já estar praticamente
acabando, ainda aparecem pessoas no lugar só para beber, ou encher o saco, ou
fazer algo ilícito (inclusive “transações comerciais”). Nesse tipo de ramo, o
rock realmente não pára.
Lá pras 5 da matina e você ainda vê coisa pior. Uma noite ouvindo um
tributo ao The Who....
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