Quem sou eu

Minha foto
Brasília - DF
"Nossa meta é trazer tanta evolução, transcendência e apoteose, quanto uma merda que deixa de ser bosta pra virar adubo."

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Estamos todos aqui reunidos para esta maravilhosa festa!

Spill the wine and take that ‘MALT’




 

Memorandum...
Dia: 03 de agosto de 2013.
Local: Área externa do Museu Nacional da República
Encerramento do Festival de Música Candango Cantador
 


(Por Tecàrius Neves)


Chegamos – Áteus Làgus, Olivetis Boogie, Tofàres Ervas, Lilamaio e eu – ao Museu Nacional da República, por volta das 22h30, em uma situação um tanto quanto tresloucada... “GUILHEEEEEEEEEERME”... Tresloucada e com uma pitadinha de psicodelia, pra fazer jus ao que todos aguardavam (avidamente!) neste dia... Pois, a banda responsável pelo encerramento do Festival é, nada mais, nada menos, do que Os Mutantes!

Podemos dizer que, antes da “treslouquice” já citada, a loucura teve início um pouco antes... Apesar de se tratar de cotidiana, não podemos desconsiderá-la até que cheguemos no ponto em que as coisas se desenrolem de fato... “CADÊ MEU BEBÊÊÊÊÊ”... Para um melhor entendimento, voltemos algumas horinhas... duas já tá de bom tamanho... Por volta desse tempo, ou seja: 20h30, eu ainda me encontrava em casa, sentado no sofá...&... no braço do sofá, o rato wireless estava no controle do habitat remoto... Assistia um vídeo do Eric Burdon & War, em que tocavam “Spill the Wine”, enquanto eu combinava pelo celular com o Tofàres de nos encontramos pra irmos ao show da noite... Combinamos o horário e local onde ele me buscaria e daria carona... bebi o resto de um vinho que estava na geladeira e fumei um cigarro na janela da cozinha, onde, do quinto andar do prédio, jogava fumaça para o alto e pensamentos para baixo, admirando o vaivém da cidade... Derramei as últimas gotas da garrafa de vinho pela janela, como a música que rolava logo ali na sala ainda propunha... Cantarolei a música que já chegava ao final, “Spill the wine and take that pearl”...&... olhei pro relógio preso na parede da cozinha, notando que já era hora de sair do meu remoto habitat...

Pouco tempo depois, eu já me encontrava em uma distribuidora de bebidas, localizada na Av. das Palmeiras, em Taguatinga, aguardando a carona do Tofàres... Para aliviar a espera, comprei uma garrafinha do uísque nacional, Natu Nobilis – costumeiramente tratado por nós como “ruim porém bom” –, e comecei a dar uns goles... Após umas quatro ou cinco talagadas do malte (daqui pra frente, chamemos apenas de “malt”, por uma alusão singela à “maltratado”, ok?), chegam o Tofàres Ervas e sua namorada Lilamaio...

Compramos uma garrafa de vinho, carteiras de cigarros e entramos no carro... Antes de seguirmos para o Museu, Ervas me diz que, primeiro, teríamos que buscar dois amigos nossos que também iriam com a gente, no caso, os já citados Áteus Làgus e Olivetis Boogie... “Vâmo nessa”, respondi...&... seguimos, então, para a CNF - a praça dos junkies de Taguatinga, venerada por todo tipo de louco que gosta de manter seus passos na linha turva da extravagância e da insânia... No local, é possível, a qualquer momento, encontrar de tudo, de ilícitos à lícitos da mais boa e velha roqueiragem underground (impossível não citar o Barfly, mais conhecido como Bar do Palinho, vulgo “Lemmy Kilmister de Taguá” [boatos afirmam que, em tempos remotos, em um momento de esplendor ébrio, ele chegou a entrar numa igreja com carro e tudo, exalando odor puro & palavras sujas].)... Sanidade intransponível... Como já ouvi uma vez, “A CNF é como a Caverna do Dragão, pois todos tentam sair dela, mas, por algum motivo, acabam sendo contidos e permanecem por lá”... Não sei se são exatamente nestas palavras, mas a ideia é essa... o que tenho certeza é que o Paulinho seria o Mestre dos Magos, que, no fundo, é o Vingador… Cá com meus botões, o Cadastro Nacional de Falecidos (CNF) pode carregar, em sua sigla, uma resposta obscura, mística e enigmática sobre o lugar... Enfim, uma praça de “blablablabla, titititi, ratatata, papapapa” (como entoa a música intitulada “CNF”, da banda Besouro do Rabo Branco (tnb.art.br/rede/matheusbesouro), que tem sua sede/toca sitiada pela praça)...

Chegando lá, Olivetis Boogie e Áteus Làgus já estavam de prontidão nos esperando... Descemos do carro, nos cumprimentamos e aproveitamos pra passar em outra distribuidora bem ao lado de onde havíamos estacionado... Compramos umas cervejas... Retornamos ao carro e zarpamos, finalmente, para o Museu... Num piscar de olhos, já estamos na EPTG, rumo ao nosso destino... Fluxo tranquilo, indiscutivelmente o oposto de quando se está na hora do rush nessa mesma Estrada Parque... Acendemos nosso “cigarro do artista” e, pouco depois, já chegamos ao Museu... Gastamos mais um tempinho procurando algum lugar pra poder estacionar (um problema que muitos passam em diversos pontos do Plano Piloto - não é a toa que estudos mostram que Brasília é uma das quatro regiões metropolitanas que, em dez anos, mais do que dobraram a frota de automóveis [alguns até apelam para que a bicicleta se torne um meio de transporte prioritário, pra angariar uma melhor locomoção dentro da cidade. Isso, certas vezes sai de maneira até engraçada - como cheguei a presenciar o então reitor da UNB, José Geraldo de Sousa, fazer em 2010 durante uma palestra do físico brasileiro Marcelo Gleiser, meio a uma manifestação de um movimento grevista que havia parado a UNB. A ideia dos apelos, que ainda existe, é priorizar a bicicleta ao invés dos carros... Inevitavelmente, a teoria ocorre meiga como um sonho, já a prática poluente como a realidade do viver contemporâneo.].)... Por fim, conseguimos estacionar (longe de onde queríamos) e abrimos as portas suntuosas da sauna ambulante… Chegamos, como eu disse que chegaríamos anteriormente, onde as coisas vão se desenrolar...

Doravante voltemos ao fluxo da “treslouquice”... “GUILHEEEEEEEEERME, MEU BEBÊ!!!”... Com essa desvairada frase, a gente é recebido enquanto subimos em direção ao Museu, de onde já se ouve, baixinho, alguma banda tocando... Qual deve ser? Espero que não seja Os Cachorros das Cachorras, banda do caralho da década de 90, do brilhante Gérson de Veras (ou KaphaGérson, como ficou conhecido)... Mais passos são dados por nós em direção onde o palco foi montado – atrás da entrada do Museu – e continuo me perguntando, “que banda é essa que tá rolando?”... Vou ajustando os ouvidos às ondas sonoras que se aproximam cada vez mais quando de repente… “CADÊ, CADÊ, CADÊ MEU BEBÊÊÊÊÊÊÊÊ”... Todos nós olhamos pra traz no ato, e vemos uma mulher, já a poucos metros de distância, completamente chapada e gritando por algum suposto neném chamado... “GUILHEEEERME”... Ela não pára de gritar as mesmas coisas e isso começa a incomodar outras pessoas que também estão no mesmo trajeto que a gente... Pelo modo altamente perturbado de falar e pela fisionomia quase esquelética, deve ser usuária de crack... “Em quantidade, existe mais crack ou carros em Brasília?”, fico pensando enquanto ela vem se aproximando agoniada... De duas uma, ou ela perdeu o filho por diversos motivos (ter perdido a guarda pelo consumo da droga ou até ter engatado nesta por ter perdido o filho) ou ela tá em uma lombra altamente pesada em que acredita ter perdido um bebê que nem sequer existe além do que germina na “barriga” da latinha e é parido pela “boca” da mesma... “MEU BEBÊ É LINDO, É BRANQUINHO, É ADVOGADO”... O bebê, pelo visto, não é tão recém-nascido quanto imaginei que fosse, começo a acreditar na minha segunda teoria... Ela passa a andar do nosso lado repetindo e repetindo o que já repetia por muito tempo... Ela, então, acelera o passo e começa a gritar pelo “bebê” enquanto se aproxima de um casal a nossa frente que, por alguma discriminação social ou trauma de nenéns que engatinham no plano metafísico, sai correndo... E a “mamãe” sai correndo atrás deles... Coisa louca... Pois é, como diz uma música infantil que ta rolando por ai: “Quando a gente fica aperreado: bolacha de água e sal!”... E lá se vai a nossa tresloucada...

Tiro o “malt” do bolso da jaqueta e dou uns goles... O fumo, de há pouco, tava no seu momento de ápice e eu só conseguia ficar pensando em o que diabos tinha acabado de rolar... Quando me toco, estamos quase ao lado do palco e observo que nenhuma banda tá lá em cima, estava rolando apenas o som mecânico... O festival, como na maioria dos que rolam lá, pra quem já conhece, é cercado por umas grades, impossibilitando que as pessoas possam entrar sem que seja pela entrada fornecida... Ainda do lado de fora, próximo a essa entrada, Tofàres encontra alguns conhecidos e vai conversar com eles, já Áteus Làgus vai comprar cerveja nas tendinhas que circundam as grades... Enquanto isso, Olivetis Boogie e eu ficamos observando os figuras ao nosso redor... Estamos numa boa pescando pessoas no mar... “Olha que camisa esparrada”, diz Boogie apontando para um cara com uma camisa em que está estampada uma cartela de LSD, da famosa Bike (pra ser mais específico: aquela com uma montanha que lembra a da Paramount Pictures entre uma lua e um sol, e, no centro, um ser altamente frito pedalando uma bicicleta)... Coincidentemente, ele e o Áteus Làgus haviam “dropado” um desse um pouco antes...



Enquanto isso, lá no palco, observamos uma banda se preparando pra tocar... The Neves (tnb.art.br/rede/theneves)... Banda de 2009 que vem se destacando cada dia mais na cidade, principalmente por meninas que gostam de letras melosas - leia-se: letras sobre amor... No primeiro álbum, intitulado “Nunca mais, por enquanto”, é possível apreciar um som com instrumentais muito bem trabalhados e tendo como um dos maiores destaques da banda, a voz do vocalista Rodolpho Neves (mais conhecido por Don Neves)... Se ignorar as letras melosas (ou bobas, como uma das músicas traz assumidamente o título “Poema Bobo”), a sua voz segura, tranquilamente, as pontas... Essa voz, com influências de Thom Yorke à Matthew Bellamy, chegou a ser transmitida em cadeia nacional no programa The Voice Brasil, em que Don Neves cantou Garota de Ipanema de forma inovadora, o que pareceu um sacrilégio para ultra-conservadores do “MPBismo”, incluindo os jurados do programa, que limaram a canção unanimemente... Rapidamente, entramos e nos aproximamos da mesa de som pra apreciar a apresentação da The Neves, que tocou a música Polifônicos (que fala sobre dois celulares apaixonados... apesar da letra se enquadrar como melosa/boba, a letra é bem elaborada para o tema)... A apresentação do grupo é excelente e o Don canta, praticamente, como é possível ouví-lo no CD...&... eles saem do palco ovacionados, com razão... Todos se apresentaram muito bem, inclusive o “novo” guitarrista, Fernando Jatobá, que entrou de vez na banda pra substituir o Esdras Costas (que ficou conhecido por John Neves, durante sua estada na banda)... Este, toca hoje numa banda, de Goiânia, com pitadas de Folk chamada Shotgun Wives (tnb.art.br/rede/shotgunwives), já aquele, além da The Neves, toca também com o Móveis Coloniais de Acajú, com o Dillo Daraújo e com o Paradiso (projeto com o Dillo, André Noblat, Thiago Cunha e Diego Marx)... Jatobá também foi guitarrista da banda Brown-Há, que atualmente está, infelizmente, em hiato...


Enquanto esperamos a troca de bandas, aproveitamos pra fumar mais um “cigarrinho do artista”... Passamos a bola aqui, a garrafa de vinho ali, a de “malt” acolá... Ah, se não fossem essas “guloseimas” e os Marlboro’s... Após uns 10 ou 15 minutos, começamos a ficar aflitos... A música eletrônica que era tocada parecia ser eterna... Vinte minutos e a música parecia não mudar, sinto muita dificuldade em perceber a diferença de uma música eletrônica à outra, dependendo do caso... Existe música eletrônica de altíssima qualidade... Ali, naquele caso/situação, eu juro que não sei afirmar se a música mudava ou não... Começávamos a orar pra que a próxima banda entrasse logo... E após mais alguns minutinhos, nossas preces foram ouvidas, e a próxima banda que subiu ao palco foi O Bando da Sara... Eu não a conhecia e acabei gostando da música que apresentaram (“Vento e Furacão”)... A banda, apesar de saída do berço (de 2013), mostrou um trabalho de responsa... Um detalhe que acabei esquecendo de comentar: cada banda apresentaria apenas uma canção... Ou seja, tanto tempo de espera pra ouvir 4 minutos de uma banda... Entre nós, falamos que os produtores bem que podiam ter estendido isso ai um pouco... 

Mas como não foi... Hora da tortura mais uma vez... A música eletrônica começa novamente... Acedemos mais uma erva, matamos a garrafa de vinho, e começamos a conversar (gritar) sobre qualquer merda pra ver se o tempo passa mais rápido enquanto a outra banda entra... Falo sobre a galera da Cultura Racional que se reúne todo sábado no Conjunto Nacional... Lembro de um cara lá desse esquema que afirmou que, em breve, veremos as pessoas levitando por ai... Começamos a rir, mas quando conversei com o tal cara até que me contive, dei apenas um sorriso de meia boca... Cheguei até a comprar o livro “O Universo em Desencanto”... Vai que ao ler, eu passaria a saber o que é o encanto e, ainda por cima, salvar o desencanto... Em um vídeo, o Tim Maia, muito sapiente, disse que é um ótimo leitor, chegando a ler duas páginas por semana... Creio que ele abandonou a ideologia Racional após ficar sabendo que, após tanto sofrimento, leu apenas o primeiro volume de 21... O livro, inclusive, deve ter influenciado bastante o som mecânico da noite, já que ficar repetindo a mesma coisa várias vezes é tratado como um dogma...

A próxima banda que se prepara pra tocar é, finalmente, Os Cachorros das Cachorras (tnb.art.br/rede/oscachorrosdascachorras)... Eles tocam uma música inédita, provavelmente faz parte do material para um novo álbum... Apesar de diferente do que eu estou acostumado a ouvir deles, eu me amarrei bastante nesta música... A nova formação mantém a qualidade da banda... Destaque para as vestes do KaphaGérson, que sempre surpreende, quando o quesito é vestimenta... Blazer branco, camisa rosa, calça vinho e um chapeuzinho estiloso... O som saiu uma beleza, o Festival tá de parabéns (tirando a parte em que as bandas tocam só uma música e, obviamente, a parte da música eletrônica que perdura)...


O som mecânico começa de novo e já estamos de saco cheio (assim como você deve estar de tanto ler esses meus adendos sobre o "lance-eletrônico")... Vamos dar uma volta pra dar uma apaziguada na cabeça... Encontramos alguns amigos e trocamos umas ideias... Uma louca desconhecida surge e começa a ficar dançando na minha frente e eu peço que ela caia fora e vá encher o saco de outro... E ela vai... Quando voltamos ao local que estávamos antes, descobrimos que já era a hora de começar o show dos Mutantes... O ânimo começa a contagiar, quando, inesperadamente, um outro amigo que passava ao nosso lado veio cumprimentar Boogie e eu... Ele diz que tem duas pulseiras VIP e que se quisermos é só pegar... PUTA QUE PARIU... Devo ter dito isso e, sem pestanejar, pegamos as pulseiras... Perguntamos se o cara podia descolar mais dessas, umas duas, para o Tofàres e sua namorada Lilamaio, mas ele disse que não tinha como... Infelizmente, Boogie e eu tivemos que deixar os nossos amigos e fomos em direção à área VIP...

Chegando lá, ficamos à espera do mestre Sérgio Dias e seus mutantes atuais (Dinho Leme, Bia Mendes, Vinícius Junqueira, Vítor Trida, Henrique Peters e Fábio Recco)... Enquanto dou mais um gole do “malt”, que vai chegando ao fim, Sérgio Dias surge diante dos meus olhos, através da garrafa transparente... Imaginei seu irmão (e um dos meus maiores ídolos), Arnaldo Baptista, vindo ao seu lado... Seria do caralho... Seria... Mas o Sérgio tava ali, a uns 4 metros de distância, e a porra ia ficar louca quando a primeira nota começasse a soar... 

Dito e feito... A loucura, incontinenti, começou... Os Mutantes agitaram a noite com músicas clássicas como “Top Top”, “Bat Macumba”, “Jardim Elétrico”, “Panis et Circenses”, “Balada do Louco”, “Ando Meio Desligado”, “Baby”, a pesadíssima “A Hora e a Vez do Cabelo Nascer (Cabeludo Patriota)”... Todos cantaram uníssonos, momento lindo... Entre essas clássicas, a banda apresentou também, assim como anda fazendo nesta tour, músicas como The Dream Is Gone e a belíssima Time and Space, que fazem parte do novo álbum Fool Metal Jack, lançado no dia 30 de abril deste ano...


Estou postado e embasbacado pelo show... Termino o “malt”, finalmente, e quando olho pro lado vem, à minha direção, um amigo de estrada, Lusco Pugnaz... Nos cumprimentamos e ficamos - ele, Boogie e eu - falando sobre como o show tá do caralho... “Vi vocês aqui dentro na área VIP e tive que pular a grade pra ficar aqui também”, explica... Bem que o Tofàres podia ter tido essa ideia... Quando, brincando, falamos que subiríamos no palco, vejo uma garota fazendo justamente isso... Ela dá um abraço e um beijo no rosto do mestre e sai feliz da vida... Quando pensa que não, outra garota também sobe ao palco, já esta eu conheço, trata-se da Gaivota Naves (vocalista da banda Rios Voadores [soundcloud.com/riosvoadores], que possui influência gritante dos Mutantes – inclusive, autodenominam seu estilo como “psicodelia tropicalista contemporânea”)... Um cara que talvez estava trabalhando no som tenta interceptá-la, mas o mestre com a mão direita, ainda com a palheta entre os dedos dá um sinal pro cara de “deixa”... O Sérgio é rockstar demais! Ademais, a Gaivota é uma gatinha... SMACK... Tascou-lhe, fugazmente, uma bitoca na boca... Batizada... “Uh! Eu desbundei!”...


Enquanto nós observávamos a cena, o renomado maestro Rênio Quintas, alucinava à nossa frente com o som... Ele já tava aproveitando, com todo direito (afinal, são Os Mutantes, porra), sua “folga” na noite - ele tava sendo um dos jurados do Festival, em que os 15 artistas participantes concorreriam a premiações como “melhor música”, “melhor arranjo”, “melhor performance”, “melhor interpretação” e “Melhor Produção Original de Música Eletrônica” – se esta última se refere ao que rolou nos intervalos de uma banda a outra, todos deveriam ganhar, já que compartilharam uma única trilha sonora)... Quintas ainda fez uma excelente apresentação com a cantora (sua esposa) Célia Porto...


No decorrer do show, Sérgio Dias conversou com o público e botou pra foder ao falar sobre a situação em que o Brasil se encontra, em relação à politicagem... “É muito bom poder dizer isso tudo aqui, dizer na cara!”, bradava com toda a moral de só quem, aparentemente, passou por uma ditadura militar... Jovens e coroas iam ao delírio com os pronunciamentos do mestre... Eu mesmo cheguei a sentir um calafrio e quase bati continência... Show extremamente extraordinário!!! 

Em suma, das maravilhas profanadas, fica aqui um trecho cantado pelo mestre durante a canção El Justicero: 

“Dilmazita-ta-ta, deixa de ser banana-na-na...”

Uma noite reunidos numa pessoa só...

***


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

"Geração Perdida", Mulheres e Touradas - Delírios dos Vinhedos

(Por Tofàres Ervas)
Em 17/07/2013

Nesse último dia 14 de julho, se encerraram as comemorações do tradicional festival espanhol de São Firmino (uma espécie de padroeiro), na cidade de Pamplona e do qual me vieram várias recordações ao ver as fotos numa reportagem do site do Terra. Aparentemente o número de frequentadores só aumenta a cada ano, o que é bom para a cidade. E o que na verdade me faz lembrar vivamente deste evento, não se deve à uma visita (física) mas sim às lembranças da leitura de um dos mais célebres livros de Ernest Hemingway, chamado “O Sol Também Se Levanta”, publicado em 1926. Este, que foi o primeiro romance de destaque de Hemingway é considerado por muitos como o ápice de sua técnica literária. A narrativa retrata o cotidiano de uma geração afetada pela primeira guerra mundial, com expatriados ingleses e norte-americanos saindo de seus países, indo em direção à Europa, mais especificamente à Paris e Espanha. Lá, sem um aparente sentido e/ou moral, desestabilizados, os personagens os procuram através das artes, boemia e hedonismo. O círculo social tratado por Hemingway em sua obra é diretamente biográfico do “grupo” chamado Lost Generation, termo que se refere às celebridades literárias americanas que migraram para Paris entre a primeira Guerra e a Grande Depressão, entre elas Gertrude Stein, F. Scott Fitzgerald, e o próprio Hemingway. 

Foi tão impactante em termos de genialidade, que muitos artistas que vieram depois, como a “Beat Generation” e seus representantes Kerouac, Burroughs e Ginsberg, foram fortemente influenciados pelas ideias, técnicas e estilo de Hemingway e da Lost Generation num todo, como uma entidade dinâmica artístico/cultural. O próprio jazz tem uma inter-relação muito forte para com a Lost Generation, seja pela musicalidade calcada no improviso, seja pelo inesperado, o “estranho”. 

Hemingway tem uma escrita muito coesa em que não trata das coisas no passado (especificamente nesse livro), o que faz ainda mais difícil descrever cenas por muito tempo e que dá um toque especial à forma de como o leitor absorve isso. Entre as andanças por variadas cafés de Paris até a chegada ao referido festival, como eles estão viajando de trem, decidem parar em Pireneus, uma cordilheira entre a Espanha e a França, cenário em que ocorre uma das cenas mais belas do livro, onde alguns dos personagens do enredo começam uma pescaria e refletem sobre vários dos recentes acontecimentos em suas vidas e para onde estão se direcionando.


Já em Pamplona, é que a loucura e diversão dominam os personagens. Cachaçadas homéricas, muita dança, touradas, beberagens, gente bonita, comemorações e mais cachaçadas. Muito do que foi escrito nesse livro popularizou, para aquela geração e para as gerações futuras, o renomado festival de São Firmino e confirmo isso com base nas fotos apresentadas na reportagem do Terra. A forma como Hemingway, um grande amante das touradas as descreve é cativante e fez a mim, que era indiferente a essa tradição espanhola até então, ter pelo menos a vontade de conhecer e ver isso de perto! (Desculpem-me os protetores dos animais, é o poder da literatura e conhecimento que acabou prevalecendo). 

Nitidamente, muitas das pessoas dessas edições mais novas do festival foram inspiradas pela obra, nota-se pela apreciação do evento e forte hedonismo (alcoolismo haha) dos participantes. Pelas suas ações, até lembra o próprio grupo de Hemingway em suas “férias” para acalmar a mente. Uma das primeiras citações do referido livro cabe perfeitamente para descrever essa comparação: “Uma geração vai, e outra geração vem, mas a terra permanece eternamente”. A semelhança até pode ser além disso tudo... podem estar procurando, depois de todos os seus problemas, apaziguar o cérebro e procurar um sentido no meio de todas essas loucuras de suas vidas particulares e dos acontecimentos (principalmente os ruins) do mundo globalizado em que “tudo está ao alcance”, com a massificação de informação. Todos estão tentando achar um rumo para si depois de tanta descrença quanto ao futuro... Será?


*** 

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Minha Geração - Uma noite com "The Who"

Dilatando as artérias anais, notei no espelho – A Iluminação – os pentelhos brilhantes do pênis dourado reluzindo enquanto eu gritava ao cacete turbinado: "WHO is the brother?"


                                                               

Memorandum...
Dia: 22 de outubro de 2010.
Local: Blues Pub (Taguatinga Sul)
Apresentação da banda The Happy Jacks (The Who Tribute)
                                                               
 
(Por Tecàrius Neves)

Acabo de descer de um belíssimo ônibus de cor verde com um GDF estampado na lateral – para que todos os brasilienses não esqueçam quem é que manda. Tento respirar o máximo possível do ar poluído do Centro de Taguatinga para tentar esquecer aquele desagradável perfume humano – Nhaca Phéromones – que havia no interior do ônibus, inclusive, acendo um cigarro e vou tragando pelo nariz pra desinfetar.

Com essa fase de greve dos metroviários, o excesso de contingente nos ônibus é algo que ocorre naturalmente...&... como se já não bastasse a greve dos bancários, apesar destes merecerem adotar a greve, de fato!... Afinal de contas, devem estar enjoados de tanto caviar, e por que não aproveitar quando já é hora de chorar pra mamãe pela chupeta nova (não esquecendo que estamos em época de eleição e esse tipo de coisa é costumeiro [ainda mais com as mamães no auge da complacência e novas chupetas sendo fabricadas em série!]!)?

Urnas eletrônicas, caixas eletrônicas, pagamentos eletrônicos... pelo menos não nos fodem realmente... Virtualmente, quem sabe?

No tempo em que estes pensamentos me vêm à mente, o semáforo para pedestres emite a esperada luzinha verde que me diz de modo sinestésico: “pode vir”... E eu vou.

Logo atrás do semáforo, um letreiro enorme emite: “IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS” – o letreiro não tinha nenhuma luzinha verde e, por conta disso, não cheguei a sentir um convite como o “pode vir” anterior... Assim, resolvi respeitar as leis de trânsito e não ousei ultrapassar... A entrada da igreja tem umas pilastras de formato grego (ou romano, não sei ao certo) e outras coisinhas que enfeitam a casa do Todo Poderoso...  No mais, uma total ninharia comparada à réplica do “Templo de Salomão” que será erguido em São Paulo... Ele fará sombra ao Cristo Redentor – como disse o jornal britânico The Guardian, ao fazer referência ao seu tamanho espalhafatoso – e, supostamente, daria pra construir o Palácio do Planalto duas vezes. Pelo menos a galera que irá (ou não) frequentá-lo não vai ficar mais pensando: “Poxa, o que eles fazem com os 10% do meu salário que dou todo mês?”... Toma, taí!

Toda vez que me deparo com essa instituição, lembro-me da capa da revista IstoÉ, de 1995, em que mostra o líder (bispo) Edir Macedo – também proprietário da Rede Record de Televisão – contando dólares e ensinando aos evangélicos como meter um camelo no buraco da porra de uma agulha. Além do Macedão, vou me lembrando, só por lembrar, de outras duas figurinhas dessa cena: o bonitão do R. R. Soares e o Silas Malafaias & seu (inesquecível) fidedigno bigode – sobre este, o próprio mestre Macedo chegou a chamá-lo de “falso profeta”, por apoiar a candidatura de José Serra (PSDB) no segundo turno (poutz!)...

Penso também em qual deve ser o curso preparatório de voz em que os chamados “pastores” da Universal são obrigados a fazer para obterem a mesma voz do mestre Macedo... A MESMA!!... Assim como eu, imagino que muitos possuem essa mesma dúvida no seu mais íntimo interior...  Diversas vezes já cheguei a pensar que todos apenas atuam com um gravador, acoplado por dentro da garganta, que fica emitindo a voz enquanto eles dublam... O playback “macedônico”... Talvez por isso eles não arriscam implantar o consumo de hóstias na cultura do festival evangélico... Vai que, ao engolir o pão, dá uma pane no gravador de voz e a porra toda vai pro brejo, tornando-os, neste caso, o próprio rebanho, ou seja: a hostiam (vítima, em latim)?

Falando em hóstia (que é algo, tipicamente, católico), lembro do papa alemão, Joseph Aloisius Ratzinger, querendo se meter em nossa política ao se pronunciar sobre a questão do aborto, assunto que todos tentam, por algum motivo, evitar... Opa... Acabo de cruzar a rua e subir a calçada...&... deixo a história do papa pro passado enquanto ouço o papa do futuro, Macedo, fazendo um aborto espiritual: “SAI DE DENTRO DELA, SAI, SAI, SAAAAI”...

Espantado, olho imediatamente para dentro do recinto... mas novamente, era apenas um babaca com a mesma voz do mestre... Caí nessa mais uma vez...&... Caio fora em direção ao objetivo da noite...

Queixumes em Horário de Pico...

Tiro o celular do bolso e olho as horas: cerca de 22h30 – Cacete, espero que o show não tenha começado – penso comigo mesmo, o “Cacete” pode ter saído involuntariamente...

Ligo para o Tofàres Ervas e ele diz que ainda não chegou no Blues Pub, onde vai haver o show de uma banda cover de The Who – apesar de não ser muito chegado em bandas cover, essa me chamou a atenção por dois motivos básicos e muito simples. São eles:
  • Nunca havia visto uma banda cover de The Who, que...
  • É uma banda que eu curto pra caralho!
Pronto... Estão ai os motivos... Como eu disse: muito simples.

Outro “motivo” é que eu precisava tomar umas, o que não enquadro como um motivo... Mas, uma necessidade... Chego ao Pub e a banda ainda não havia começado...&... como era de se esperar, nada do Ervas, então já começo na frente... Cerveja na mesa, algumas pessoas bêbadas gritando em volta, e em meio a essa gritaria,do lado de fora do Pub, tento jogar algumas palavras fora com o segurança do recinto, Oswald – que é amigo nosso de outros litorais...

A localização atual do Blues Pub – a anterior é onde, hoje, se encontra o America Rock Club – é, digamos assim, um autêntico cafofo... E como não há nada melhor do que um Blues como música tema de um local cujo nome já tem “Blues” no meio: ouso sugerir a “Ventilator Blues”, dos Rolling Stones, como tema para tal: “Ev'rybody gonna need some kind of ventilator”... Como uma luva! 

De fato, todo mundo precisa de um ventilador, qualquer que seja, quando estamos tratando deste recinto – principalmente quando a quantidade de pessoas em seu interior se eleva um pouquinho mais... Alguns ventiladores espalhados pelo Pub até que salvam em raras ocasiões... Apesar disso, o cafofo não deixa de ser um refúgio para todos os roqueiros de plantão de Taguatinga... Numa cidade em que o número de locais para se curtir Rock é incompatível ao número de roqueiros inclusos nela, até dentro de bueiros dá pra se sentir bem... Uma vez que o Rock role... Por esse e outros motivos somos chamados de roqueiros “dorme-sujo”...

Retomando... O Blues Pub, apesar de pequeno e abafado, é um lugar bem acolhedor... Dá pra juntar uma galera que, apesar de soada, estampa sorrisos na face enquanto se deleita numa mesa de sinuca, em um fliperama ou em pé ouvindo a banda que estiver se apresentando... É como diz aquele ditado sobre o coração roqueiro de uma mãe, né?! E como “mãe”, em relação à cena da cidade, a Lázia – dona do Blues Pub – se enquadra muito bem... Muitos tratam-na com o devido carinho e respeito, principalmente os músicos da cidade... As admirações, normalmente, não se aplicam aos rebentos, mas isso já é outro papo...

Ligo mais uma vez para o Ervas para apressá-lo – ele costuma ser bem enrolado, mas após tantos anos de amizade, considero-o um irmão e relevo... Depois de algumas garrafas, ele chega, finalmente... Não lembro que horas eram quando ele chegou, mas creio que era pouco mais das 23h, e nada do show... Ele chega com outro amigo nosso, Stan Lee... Nos cumprimentamos e, rapidamente, vem à tona o grande momento: ir atrás da cana...

Para o bem ou para o mal, cerveja demora pra embriagar, além de criar ao redor da mesa uma esteira metafísica de transportar dinheiro pra longe da gente (algo que já tínhamos pouco ali)... O problema de ficar só na cerveja é que, quando menos percebemos, o dinheiro não tá mais onde deveria, diferentemente de nossas cabeças, que permanecem quase no mesmo lugar de antes de começar a beber... Nosso objetivo não é manter a cabeça no lugar, ainda mais em um dia como o de hoje... Ficar ali tomando cerveja ou doses caras seria, em outras palavras, um Menos-Valia...

Precisamos de uma garrafa!!

Alguns amigos do Stan Lee haviam chegado ao local e ele foi cumprimentá-los... Enquanto isso, eu e o Tofàres Ervas saímos do Pub em direção a uma distribuidora de bebidas que fica a praticamente quinze minutos, à pé, dali... Para a nossa derrocada, esses passos foram em vão... A distribuidora estava fechada e a tristeza tomou conta da nossa essência como ser (como Dasein)... 

Chegamos de volta ao Pub com o estandarte da agonia quando, para nossa mais sincera surpresa, avistamos uma garrafa de vodka (Orloff) entre Lee e seus amigos, que aguardam do lado de fora do recinto... Não há como descrever tamanha alegria nessas linhas tão certinhas – sóbrias... Quem possui, como dom, o espírito ébrio, sabe qual é a sensação apenas em imaginá-la... Enquanto o Ervas – o sociável de nós dois – troca alguma ideia com alguns deles, eu abro a tampa da garrafa e dou rápidos tragos ali mesmo, na boca da garrafa... Minha alma é lavada e transcendida à alegria enquanto passo o néctar para o Ervas, que, como bom bebedor, aprecia com o mesmo vigor & honraria – o sociável insaciável...

A banda, enfim, começa a tocar lá dentro do Pub e decidimos entrar... Não lembro bem se eles abriram com o clássico My Generation, mas lembro de entrar ao som desta... O som estava bom, apesar da voz baixa – o que é normal em algumas casas de shows... Pegamos uma cerveja e ficamos analisando aqueles caras tocando vários clássicos ali... Apesar de não gostar muito de cover, essa banda se sai bem... Até ai, tudo bacana, o resto embaralha um pouco...

Não sei se por meu  já mencionado (até demais)   gosto por bandas cover ou se é por conta do álcool agindo legal na minha cabeça, mas o tempo passou muito rápido e eu consigo lembrar, apenas, de alguns detalhes do show... Essa análise, vou deixar para o Tofàres Ervas, se é que aquele alcoólatra vai lembrar também...

Retomando (pelo que lembro & como lembro):

Jogamos algumas partidas de sinucas apostando cerveja e...
.
.
.
Estamos, subitamente, fora do Pub... Em algum momento inerte, o show acabou e todos já iam embora...

Enquanto saíamos, Ervas me diz ter uma erva para que a gente possa ir pra casa e dormir tranquilo... Fumamos ali mesmo, a uns 5 metros da entrada do Pub... Oswald, o segurança, também está na roda, grande camarada! Trocamos algumas ideias e nos despedimos...

A ideia, aqui, era escrever sobre uma noite de show na cidade de Taguatinga... Como diria o jornalista e escritor uruguaio, Eduardo Galeano: “A memória guardará o que valer a pena”... Talvez a regra mude quando estamos "altos"...

A noite, no entanto, acabou sendo só mais um motivo para apreciarmos os Queixumes em Horário de Rock...

***

(Por Tofàres Ervas)


Após o toque do celular, na tela vejo o número do Tecàrius Neves, atendo e ele diz que já está perto do Blues Pub. Já é próximo das 22h30. Me lembro que as bandas nunca começam no horário e isso é um saco, às vezes... pelo menos quando você está só querendo ver o show ou está quebrado. Saio de casa observando e procurando algum movimento mas acho que está em época de seca, nada nada. Encontro o Stan Lee no caminho, que iria também ao show. Sorte ter encontrado um save algumas quadras à frente, o que já ajudaria também o Tecàrius Neves assim que chegássemos.

O lugar fica perto do Obcursos e perto das Lojas Americanas, em Taguatinga (Centro), lugar repleto de comércio durante o dia e também à noite... “comércio sexual”: travestis, prostitutas, vez ou outra se vê algum drogado, coisas normais durante noites em centro de cidades “movimentadas”. Já no Blues, o local é cercado por um point de venda de pizza e do outro lado uma lanchonete. Tem uma pequena grade pra separar os frequentadores das pessoas que passam na rua, medida de proteção. Além do segurança.

Ao fundo, uma porta de madeira daquelas que abrem dos dois lados como entrada e paredes azuis por fora; mesas à disposição de quem quer tomar uma cerveja e um ventinho do lado de fora.

Chegando vejo o safado Tecàrius já tomando uma cerveja (depois de ter ligado várias vezes no cel. me apressando) e também reparo que o show não havia começado, mesmo tendo chegado ao lugar no horário certo. Cumprimento o Oswald, que é segurança, já conhecido nosso, bem gente boa e bom funcionário e logo em seguida cumprimentar o amigo. Pedimos mais copos pra ajudar com a cerveja enquanto conversamos sobre a demora do show, alguns amigos que o Stan Lee disse que viria das áreas do Plano Piloto e sobre o que beberíamos em seguida. Já deviam ser 23:20 pra mais.

Depois de alguns minutos, tempo em que tomamos o restante da garrafa, chegam os amigos do cara, que param no point de pizza e pedem uma. Aproveitamos que enquanto ele fazia a recepção dos forasteiros, iríamos pegar uma garrafa de alguma bebida quente, porém o caminho foi em vão, pois não havia mais nenhuma distribuidora nem similares abertos.

Na volta, descobrimos que os forasteiros trouxeram Orloff, o que já era uma boa ajuda alcoólica no momento e lembrando que já devia ser meia-noite e nada do show começar. Tudo bem, tá certo que estava curioso pra ver um cover de The Who, nunca tinha visto um em Brasília, mas não dei muita importância, era cover e estava me embriagando. Quando algumas doses foram engolidas, começa o som da batera juntamente com a guitarra e baixo trazendo as notas de uma música que é razoavelmente famosa deles, mas não me lembro... Fomos entrando novamente no Blues, pegamos as comandas e seguimos adentro.

Logo senti o ar abafado, mais paredes azuis com misturas brancas e um “corredor” feito por uma proteção de compensado à esquerda, que do outro lado se posicionam duas mesas de sinuca e 4 ou 5 máquinas de Arcade (Mortal Kombat, Street Fighter, Metal Slug e mais alguma que não lembro). Continuando o tal corredor, um degrau de descida e algumas mesas espalhadas, o balcão onde vendem-se as bebidas mais ao fundo no lado esquerdo; banheiro logo à direita do término do corredor e mais ao fundo do lado direito. Entre eles, o palco, onde agora estavam tocando My Generation, clássico absoluto. Peço pro Tecàrius pegar a cerveja.

Gostei do timbre de guitarra particularmente, mais moderno e mais ganho do que o timbre do Pete Townshend, porém de bom gosto. A voz, apesar do vocalista estar cantando bem e desafinando pouco, sempre é um problema, ainda mais se tratando de Blues... creio que desde que se mudaram da sua antiga localização em frente do Carrefour (Taguatinga Sul), já falavam dos equipamentos de som em geral, destaque para a voz, que normalmente é o mais difícil de deixar de forma a agradar a todos. O baixista também executava bem e estava ouvindo um bom timbre, junto com a bateria que fazia coisas interessantes, mas não tão “The Who” e sim um peso à mais nas batidas.

Não está lotado, longe disso... (se chegar a lotar...) Perto do palco, maluco e pilhado como sempre, está um amigo de boas “estradas”, Davi Kaus que deve ter acabado de discutir com sua patroa e está liberando energia no rock do Who. Cara altamente respeitável, bem presente na cena do rock de Taguatinga, com a banda Vitrine, além de alguns outros projetos, e sempre auxiliando o cenário. Acho que ele está bem bêbado, inclusive, mas nada que já não tenha passado. Queria ouvir Baba O’ Riley....

Depois de algum tempo vendo o set que baseou-se, com maestria, nas obras mais conhecidas do The Who (mesmo tendo sentido falta da já falada “Baba”, I Can See for Miles...), a vontade de jogar uma sinuca surge após ver os amigos do Lee jogando e nitidamente se viam aprendizes.  Intimo o Tecàrius para uma rodada. Velha regra:

“perdeu, paga a cerva”.....

Ele ganhou a primeira ficha. Muita sorte!
.
.
.
É, agora resolver na próxima.
.
.
.
MALAAAAAAAANDRA! Paga a cerva agooooooooooora safado!

Depois de algum tempo circulando pelo lugar, percebo ser 2:30 da manhã. É... ninguém na rua, movimento concentrado adentro, hora do velho save. Ou não se lembra da ajuda ao Tecàrius Neves que me referia lá em cima? Pois é, quando se sabe, não se esquece.

Faço todos procedimentos ali fora mesmo, e após a liberação do segurança, vou ao outro lado da rua com Tecàrius e acendemos o cigarro. Depois de alguns passes, vem também o segurança e o amigo dele, coisa rápida.

Cerca de meia hora depois, após o movimento já estar praticamente acabando, ainda aparecem pessoas no lugar só para beber, ou encher o saco, ou fazer algo ilícito (inclusive “transações comerciais”). Nesse tipo de ramo, o rock realmente não pára.

Lá pras 5 da matina e você ainda vê coisa pior. Uma noite ouvindo um tributo ao The Who....


***